Anjo e Demônio


Encontre o seu lugar, e só volte se for pra dizer que esta tudo bem.  Que estamos em paz agora.
 Cerro os olhos e tudo o que eu vejo é a sua imagem, esculpida em todos os detalhes em minha memória. E de repente tudo volta -as lembranças nunca me deixam- sinto seu cheiro, abraço o travesseiro pra dizer que está tudo bem -ilusão-. Meu corpo se incendeia, meu subconsciente está mergulhado agora em um mar profundo, tento subir, mas é em vão, algo me puxa para o fundo novamente e eu me enrosco em você. Me sufoca, mas eu gosto!
 Você é um mal necessário, uma dor vital e diária, como um viciado em toxinas.
 Analisando cada verso da nossa história, me deparo com cenas de um filme, ou algo assim. Enfim, o cordeiro acorda e vê que o leão, era só um leão - ou mais um- e num piscar de olhos, se vê obrigado a correr na direção oposta. Fugir foi necessário, o cordeiro tinha que salvar sua pele -seu coração-, agora, refugiado, sem muitas opções de fuga, começa a repetir incansavelmente "que cordeiro estúpido".
 Diante de toda a situação, vejo você vindo, -abra os olhos menina- e num sorriso intimidador me arranca de meu refúgio, num ato quase violento - mas quem liga?, se pudessem ver o seu doce e desafiador olhar entenderiam- pega em minhas mãos e eu suplico "não as solte", então você quase toca meu rosto e desaparece. Tive a sensação de ser arremessada do décimo quinto andar de um prédio. De volta a realidade, nada em volta, a não ser o seu doce perfume, o reconheceria a quilômetros de distância!
 Temo a chegada da noite, pois é quando você mais me atormenta. Sua voz -agora quase gritando em minha cabeça- me manda que cerre os olhos. Mas não quero, você me soltou - mais uma vez-. Um café quente me mantém acordada, e um bom livro me acompanha noite a dentro, viro a próxima pagina, e lá esta você, logo na primeira linha. Com um sorriso estonteante, me olhando com ar de desaprovação - como é que se respira mesmo?- como se fosse um crime te evitar, me grita que é em vão. E lá vem você, atormentar minha leitura.
 Confesso estar totalmente atormentada, que falta você me faz. E eu, que sempre achei que esse negócio de romantismo fosse doença. E talvez seja -sorrio ironicamente-, veja só você, em carne e osso -não menos encantador- mas aqui, na realidade, me parece tão distante, tão frio. E olhe só para nós, há uma clara barreira aqui. Ontem éramos quase um só, hoje, pfff, hoje se quer existimos.
 O garoto que me atormenta não gostaria de ver como nossos corpos se rejeitam na realidade, posso até vê-lo esbravejando algo, mas não dou a mínima -quem precisa da cópia quando se tem o original?-. E assim passamos um pelo outro, dois estranhos velhos conhecidos.

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